terça-feira, 25 de janeiro de 2011

A PÁTRIA: as Mariannes da nossa República


Nesta semana tenho o prazer de postar a nossa primeira análise de uma imagem histórica de cunho nacional. A Pátria, título do quadro produzido em 1919, pelo pintor brasileiro Pedro Bruno, que sem sombra de dúvidas é uma das telas mais belas do nosso acervo artístico. Dotada de uma grande riqueza de conteúdo histórico, o quadro procura representar o sentimento patriótico, bem como, a esperança e credibilidade depositados na República, sistema político implantado no Brasil em 15 de novembro de 1889.
Sendo assim, quais seriam os elementos simbólicos presentes neste quadro que precisaríamos destacar para bem entendermos a sua mensagem?
Para começar, não posso deixar de brevemente comentar, que não é possível abordar o tema “Proclamação da República no Brasil”, sem realizar o embate ideológico entre dois sistemas políticos que perpassam por nossa história: a MONARQUIA, que vigorou no Brasil entre os anos de 1822 a 1889 e a própria REPÚBLICA, que implantada em 1889, embora tenha sofrido ao longo da história períodos de interrupções, perdura até os dias atuais em nosso país. Este embate se faz presente na imagem acima de forma simbólica, portanto, é preciso ter em mente que, historicamente falando, o sistema monárquico sempre esteve associado à figura masculina. Isto pode ser muito bem exemplificado na postagem de número 2 deste Blog, quando tratamos sobre O Leviatã de Thomas Hobbes. Por outro lado, após a Revolução Francesa, o sistema republicano tem sido fortemente representado pelo elemento feminino, em sinal do contraditório entre os dois sexos e consequentemente entre os dois sistemas. Como exemplo, temos a Marianne, figura alegórica que representa a República Francesa.
É justamente desta linha de raciocínio que partiremos para a análise de A Pátria:
Se observarmos no canto superior direito da tela, notaremos a presença de um velho sentado e que até aparenta ser o único elemento masculino da cena. Nele está representado o sistema monárquico, nos dando a idéia de ultrapassado, de atraso, de arcaico, etc e como quase nem dá pra vê-lo, podemos afirmar que é como se ele estivesse saindo de cena, o que de fato acontecera quando em 1889 a República fora implantada no Brasil.
Em oposição ao velho (monarquia), destaca-se no cenário as mulheres (república) que tecem a nova bandeira brasileira, ou seja, que constroem a nova pátria. Nesse sentido é de suma importância ressaltar que a simbologia da mulher está estritamente condicionada à representatividade do sistema político, no caso a REPÚBLICA, e não à sua participação política de fato, o que não havia naquela época.
Também notamos a presença de crianças na cena, e estas simbolizam o “nascimento” da nova pátria. Chamo a atenção para três delas, a primeira (à esquerda) mama tranquilamente ao colo da sua mãe que está coberto com uma parte da bandeira, a segunda criança (ao centro) apresenta-se de pé abraçando a bandeira e a terceira (à direita) aparece ao chão, deitada, brincando com uma das estrelas que será costurada na bandeira. Indiscutivelmente, podemos afirmar que a bandeira é o elemento de destaque no quadro e por isso é mostrada como objeto de amor, de devoção: “ela é abraçada, ela protege e abriga os seus filhos.” Este é o sentimento patriótico que deveria brotar no coração dos brasileiros segundo os republicanos.
Além disso, a maternidade é um dos elementos simbólicos significantes da cena e deve ser associada a idéia de “terra mãe”, um dos sinônimos atribuídos a palavra pátria.
Para finalizar nossa análise, ainda podemos destacar dois aspectos importantes na cena: Ao fundo, temos um quadro de Tiradentes, que durante o período colonial e imperial foi fadado à condição de traidor e que após a implantação da república foi elevado à qualidade de herói nacional e ao lado deste mesmo quadro, outro de Marechal Deodoro da Fonseca, o proclamador e primeiro presidente do nosso sistema republicano.
Após alguns dias em que postei esta análise, surgiu um comentário muito pertinente e que acredito contribuir muito para o enriquecimento das discussões relacionadas a leitura da tela "A Pátria", por este motivo resolvi disponibilizar o comentário no próprio texto da postagem. Vejamos:

"Se reparas bem há uma imagem de um santo logo abaixo dos quadros, o Estado é laico, mas a população é devota. Também veja as feições da criança que abraça a bandeira, não parece mais uma criança européia? Onde estão os negros e os indios? eles não fazem parte dessa nova "era" da história? Esse quadro é lindo artisticamente falando, mas há uma profundidade cultural nele muito forte." (Pedro Augusto)
Desde já, agradeço a vossa atenção e aguardo também, a vossa participação!!!


terça-feira, 18 de janeiro de 2011

ÀS BENÇÃOS DO PRÓPRIO NAPOLEÃO


A imagem acima reproduz uma parte do grande quadro do pintor francês Jacques-Louis David, que retrata “a coroação de Napoleão e Josefina”, ocorrida em 1804 na Catedral de Notre-Dame. O quadro foi pintado entre os anos de 1805 e 1807, e atualmente encontra-se exposto no Museu do Louvre, localizado na cidade de Paris, na França.
Norteado pelos elementos simbólicos da imagem proposta, podemos perceber que embora Napoleão Bonaparte visse a Igreja com certa desconfiança, buscou o apoio do clero a fim de ampliar a legitimidade de seu governo. Isto torna-se evidente, através da presença de integrantes da Igreja Católica, dentre eles, a sua liderança maior, o papa Pio VII.
Napoleão procurou dar à sua coroação o mesmo significado simbólico que teve a coroação de Carlos Magno, muitos séculos antes. Por isso, no ato de sua coroação, Napoleão entrou na catedral com a espada e usava o manto do imperador franco.
À semelhança de Carlos Magno, Napoleão também foi coroado em dezembro, mês do natal, e não poupou esforços para que a cerimônia fosse realizada com luxo e requinte. Napoleão e Josefina compareceram ao evento vestidos de veludo bordado e seda trabalhada em ouro e prata. A coroa de louros dourados, usada por Napoleão, evocava o esplendor da Roma Antiga.
Um pequeno detalhe, no entanto, tornou especial este dia inesquecível: na hora H, Napoleão surpreendeu a todos com o seu gesto: retirou a coroa das mãos do papa, deu as costas a ele e se autocoroou “imperador dos franceses”. A seguir ele próprio coroou Josefina, sua esposa.
O pintor procurou fixar o exato momento em que Napoleão está prestes a coroar a si mesmo. Enquanto isso, a futura imperatriz aguarda ajoelhada. Ao coroar-se, Napoleão provavelmente quis dizer que nem o chefe da igreja estava acima dele. Aliás, perante a perfeição da obra analisada, não podemos deixar de destacar a feição de desaprovação contida no rosto do papa diante da atitude de Bonaparte.
Outro aspecto a ser lembrado aqui, refere-se a escolha de Jacques-Louis David. Esta sem dúvida não foi casual. Ele era o pintor oficial de Napoleão e adotava o estilo neoclássico. Ora, o neoclassicismo buscava inspiração nos temas da Roma e da Grécia antigas. Era, portanto, um estilo que desejava equiparar-se aos antigos imperadores romanos. A festa de coroação obedeceu a um ritual semelhante em tudo ao que era dedicado àqueles imperadores.
Bom... como apenas exploramos uma parte aproximada do quadro de Jacques-Louis David, deixo para os curiosos o link que permite acessar a belíssima obra por inteiro: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/3/39/Jacques-Louis_David_006.jpg

Aguardo vossa participação!
A base deste texto foi retirada do livro História, Sociedade & Cidadania de Alfredo Boulos Júnior utilizado como fonte de pesquisa e devidamente adaptado.


terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A CONTRADIÇÃO IDEOLÓGICA DE UM GOVERNO E DE UM POVO


A imagem proposta para esta semana é na verdade um clássico nos livros de história quando o assunto a se abordar é a “Crise Capitalista de 1929”. Na realidade, trata-se de uma foto tirada em 1937, pela americana Margaret Bourke-White, uma das pioneiras do fotojornalismo mundial, que com sensibilidade ímpar, registrou em uma única foto o momento econômico, a realidade social e cultural vivida pelo povo estadunidense em épocas distintas.
No entanto, para analisarmos esta fotografia, se faz necessário o destaque de alguns elementos importantes:
1-      A frase em destaque (a cima) que intitula o outdoor, WORLD’S HIGHEST STANDARD OF LIVE (“O melhor padrão de vida do mundo”) e o trecho logo abaixo (lado direito) THERE´S NO WAY LIKE THE AMERICAN WAY (“Não há melhor estilo de vida que o americano”);
2-      A ilustração do outdoor complementa e/ou reafirma o conteúdo ideológico das frases, o AMERICAN WAY OF LIFE (“Estilo de vida americano”), exibindo uma feliz família que viajara em seu carro novo;
3-      Por fim, devemos destacar as pessoas enfileiradas, à frente do outdoor, com objetos nas mãos: cesto, sacola, balde, etc.

O “Estilo de vida Americano” expresso no outdoor, tratava-se da realidade vivida nos EUA na década de 20, período de ascensão econômica que impulsionara o consumismo da população. À luz daquele período, com a economia equilibrada e o poder aquisitivo da população em alta, bens de consumo, até então acessados apenas pela elite, e o carro expresso na foto do outdoor é um deles, passou a figurar nas demais classes sociais. Este clima de euforia econômica e de consumismo era associado ao conforto e ao bem-estar. Comprar era sinônimo de “patriotismo” e de “poder”, sentimentos estes, que compunham a base ideologia do estilo americano de viver, que deveria ser “invejado” e “copiado” pelos demais povos do mundo.
O período de abundância chegaria ao fim em 1929. A recuperação econômica dos países europeus pós Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e as medidas protecionistas adotadas por estes, aliados a outros fatores como a superprodução industrial estadunidense, acarretaram numa crise econômica sem precedentes que logo se espalhara pelo resto do mundo. Em sua vigência, a Grande Depressão, como também é denominada a Crise de 29, desempregou nos EUA mais de 15 milhões de pessoas.
A foto proposta expressa de forma fantástica, a CONTRADIÇÃO que caíra o governo e o povo americano naquela década de 30. Sem sombra de dúvida, este é o elemento simbólico que tornaria a fotografia de Margaret Bourke-White, famosíssima no resto do mundo, pois se ao fundo o cartaz enaltece a qualidade e o alto padrão de vida do estadunidense, logo a sua frente, apresenta-se a dureza da nova realidade afeiçoada nas pessoas que enfileiradas recorrem aos programas sociais que socorriam, ofertando até mesmo alimentos,  a população das difíceis condições de vida que agora lhes era apresentada.

Chegando ao finalzinho desta postagem, sugiro para quem se interessar em conhecer um pouco mais da brilhante Margaret Bourke-White e algumas de suas obras, o link:http://veja.abril.com.br/blog/sobre-imagens/mulheres/margaret-bourke-white/

Por fim, ficaria imensamente grato se após a leitura e análise da imagem proposta, você pudesse avaliar, comentar e/ou acrescentar algo sobre esta postagem.

Aguardo vossa participação!


terça-feira, 4 de janeiro de 2011

O Monarca de: O Leviatã



Na postagem inaugural deste blog, trago uma parte do desenho da capa do livro “O Leviatã”, publicado em 1651, por um dos principais teóricos do sistema absolutista, o filósofo inglês Thomas Hobbes (1588 a 1679). Obviamente se contextualizarmos historicamente o período citado, chegaremos a conclusão de que o mesmo refere-se à formação dos Estados Nacionais europeus, fato este que, cronologicamente falando, ocorre após o fim do período medieval, que estendeu-se do século V ao XV.
Diante das inúmeras mudanças ocorridas na época, tanto nos campos estruturais da sociedade, da economia, da política e da cultura européia, Thomas Hobbes, apresenta em sua obra uma justificativa, eficiente à sua época, para a necessidade da constituição de uma centralização absolutista do poder político.
Sendo assim, vamos ao simbolismo dos principais elementos contidos na figura proposta:
1.       A Coroa representa o sistema político defendido por Thomas Hobbes em sua obra, a Monarquia. Neste caso, a coroa é usada também para fazer alusão ao líder político deste sistema, o Rei ou Monarca;

2.       A Espada, à mão direita do rei, simboliza uma das mais fortes justificativas para a formação do Absolutismo, a segurança (o exército nacional). Em O Leviatã, Hobbes diz que “O Povo renuncia tudo em troca do grande dom da segurança”;

3.       O Cetro, à mão esquerda, simboliza o poder soberano do monarca. Diante desta observação, é válido lembrar que o monarca absolutista acumulava os poderes políticos (executivo, legislativo e judiciário) e econômico (através das medidas mercantilistas) e através destes, somado ao apoio concedido pela Igreja, exercia um forte controle social;

4.       Ao observarmos com um pouco mais de atenção o corpo do rei, perceberemos que o mesmo é formado por pessoas. Neste caso, a imagem é uma perfeita ilustração da origem do poder real, pois segundo Hobbes: “O governo absoluto havia sido estabelecido pelo próprio povo”;

5.    A proporção (tamanho) destinada à figura do rei, deve ser atribuída ao poder real. Na figura acima, fica a sensação de que a autoridade monárquica alcança facilmente todo o território nacional, ou seja, nos é passado a ideia de um controle estabelecido que podemos chamar de governo.

               Enfim, para a História "a imagem é um 'texto' e portanto deve ser lida".
              Ficaria imensamente grato se após a leitura desta postagem, você pudesse avaliar e comentar a mesma.

                 Atenciosamente,
                 Prof. Hermes Júnior