quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

A PÁTRIA DESOLADA


A tela que iremos explorar nesta postagem foi pintada em 1879 pelo uruguaio Juan Manuel Blandes, que procurou através desta obra prima da história artística sul-americana, expressar a sua visão acerca da Guerra do Paraguai (1864-1870). Embora produzida nove anos depois do final da guerra, “A Paraguaia”, como é conhecida a tela, nos revela com precisão o grau de devastação que a guerra trouxera aos paraguaios. Após seis anos de intensos e sangrentos conflitos e de epidemias como a cólera, que afetara não somente os combatentes, mas também a população civil, a resistência paraguaia chegava ao fim e com ela se apresentava um cenário desolador que contrastara com o status de potência sul-americana atribuído a nação Paraguaia no que se refere ao período pré-guerra.
Para melhor analisarmos a tela proposta, destacaremos um a um, os elementos nela apresentados:
Sendo assim, ao centro da cena aparece uma mulher com vestimenta simples e expressando uma intensa tristeza diante do cenário que lhes rodeia. Com um olhar mais sensível, perceberemos que a mesma aparenta traços maternos, sendo assim, a maternidade está associada à representatividade de “pátria-mãe”, pois assim como uma mãe, a pátria acolhe, alimenta e protege os seus filhos. A tristeza expressa se justifica devido ao cenário desolador que se apresenta. Corpos espalhados ao chão sob a vigilância de urubus, tornam a paisagem aterrorizante e para piorar, alguns corpos aparentam ser de jovens adolescentes, o que confirmaria a versão de que no final da Guerra, numa tentativa desesperada do governo paraguaio, muitos jovens foram enviados aos campos de batalha.
Ainda podemos atribuir um segundo simbolismo à figura feminina presente na tela. A tristeza expressa por uma mulher, representa a violenta redução da população masculina do Paraguai, ou seja, após a guerra a população paraguaia era constituída majoritariamente de mulheres, idosos e crianças.
Abaixo da tela, mais precisamente ao chão, praticamente sob os pés da paraguaia, aparecem uma bandeira do Paraguai (praticamente enterrada), um livro aberto, porém destruído e uma arma, que nos remetem a idéia de destruição e fracasso patriótico, cultural e militar que predominara até então.
A Guerra do Paraguai impactou fortemente sobre os países diretamente envolvidos, ao Brasil, Uruguai e Argentina restaram uma boa dívida externa contraída junto aos ingleses, e ao Brasil em especial, a longevidade do conflito obrigou ao exército brasileiro utilizar escravos para compor seus batalhões, o que mais tarde impactaria fortemente nas estruturas do sistema escravista, aliado a isso, o contato com exércitos de nações republicanas fez com que o exército brasileiro exigisse do governo uma maior participação e influência nas questões políticas do país. Esses fatores expostos foram alguns dos principais responsáveis pela vindoura queda do sistema monárquico brasileiro. Ao Paraguai, como já foi explanado anteriormente, restou à destruição das suas estruturas produtivas, militares e econômicas deixando a nação guarani em condições de miséria e altamente dependente do capital internacional.
Se leu, não deixe de marcar uma das reações ou postar um comentário.
Para quem quiser ver outras obras de Juan Manuel Blandes é só clicar aqui.
Saudações históricas!



terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

AS MÃOS QUE ALIMENTARAM A GUERRA


Bom... depois de uma breve pausa para a reestruturação do Blog “História por Imagem”, retornamos para mais uma postagem.
A imagem submetida para análise desta semana vem da Inglaterra, mais especificamente da cidade de Londres aonde encontra-se exposta no Museu Imperial da Guerra. Não é preciso muito esforço para encontrar esta fotografia nos livros didáticos da disciplina de História, quando o assunto a se tratar é a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Tirada em 1916, ou seja, com o conflito em curso, a foto acima nos fornece subsídios perfeitos para bem entendermos a realidade vivenciada pelos ingleses fora dos campos de batalha.
A cena retratada refere ao interior de uma indústria bélica inglesa, e de imediato dar-nos uma dimensão da potencialidade armamentista disponível à força militar da Inglaterra. Os incontáveis números de projéteis fabricados que aparecem na cena alimentariam à luz daquele período, poderosos equipamentos de guerra até então nunca utilizados em conflitos armados, como por exemplo: tanques, aviões, submarinos, etc.  

Empenhado nos campos de batalha, o exército inglês compunha a Tríplice Entende, aliança militar composta por Inglaterra, França e Rússia e na medida em que o conflito se prolongava, tornava-se necessário cada vez mais a convocação de novos soldados. Esta necessidade acabou alterando de forma curiosa o cenário industrial bélico da Inglaterra. Com a economia voltada para aumentar a produção de artigos de guerra (armas, munições, veículos de grande porte, etc) e com a grande quantidade de homens que participavam dos combates, um considerável número de mulheres e até mesmo de crianças ingressaram no mercado de trabalho industrial, sobretudo o armamentista. Fato este, bem ilustrado na foto proposta e num cartaz inglês da época:


A vida deles depende dela.
Mulheres para a indústria de munição.
Alistem-se já. (tradução)
 A fotografia inicial submetida aos olhares contemporâneos revela-nos uma triste cena aonde crianças que antes manuseavam livros e brinquedos e mulheres que até então culturalmente falando, cuidavam dos afazeres domésticos e da família passam a produzir objetos de destruição que alimentariam a guerra, sem ao menos se ter a real noção do poder assassino desses projéteis. Tempos depois, isto até lhes fora revelado quando apurou-se o número de mortos e feridos que juntos somavam algo superior a 30 milhões de pessoas, sem contar a devastação apresentada nas estruturas urbanas e rurais. Tarde demais!

Sendo assim, agradeço vossa atenção e conto com a vossa participação!
Saudações históricas!


terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O TRIBUNAL DE OSÍRIS: os princípios mitológicos na fé contemporânea


Se existiu uma civilização na história antiga que bem soube representar seus aspectos culturais, econômicos, políticos e sociais por meio da arte, sem dúvida alguma, foi a civilização egípcia. Diante de um acervo incontável de representações, escolhi esta que faz parte do “Livro dos Mortos”, um conjunto de textos que eram colocados junto aos sarcófagos, aonde o morto expunha suas qualidades em vida, assim justificando e pedindo a absolvição da sua alma. Este livro atualmente encontra-se no Museu Egípcio da cidade de Turim, na Itália.
A cena proposta traduz aquilo que seria o “Tribunal de Osíris”.
Osíris que aparece de pé (à direita) era uma das divindades mais veneradas no Egito Antigo. Segundo a mitologia egípcia, ele era o guardião das riquezas materiais e dos mistérios, era o deus comandante da morte, da ressurreição e das transformações. Em seu tribunal, auxiliado por 42 divindades, Osíris era o responsável em dar o veredicto acerca do destino dos falecidos.
Outro aspecto relevante na cena é a presença do deus Anúbis, que aparece agachado ao centro controlando uma balança. Antes de falarmos da simbologia da balança, é de grande valia destacar o aspecto antropozoomórfico no qual Anúbis é representado, ou seja, uma mistura da forma humana com a de um animal, uma característica peculiar dos deuses egípcios. No que se refere à balança, é justamente nela que o coração do morto é pesado. Se bem repararmos na ponta direita da balança há um coração que será nivelado com uma pena, ou seja, para obter a absolvição de Osíris, o coração do morto deveria pesar menos que uma pena. E só isso não basta para a salvação da alma, que uma vez absolvida, ganhava o direito de retornar ao seu corpo, desde que esse esteja em condições de recebê-la. É daí que vem o desenvolvimento da técnica de mumificação, que visava conservar a integridade do corpo após a morte evitando dessa forma, a decomposição do mesmo, além também dos costumes de enterrar os mortos com objetos considerados importantes para aquela pessoa quando em vida.
Para finalizarmos gostaria de externar que a escolha desta imagem foi proposital, pois embora a civilização egípcia antiga tenha se desenvolvido a milhares de anos antes de Cristo, importantes fundamentos religiosos da mitologia egípcia, como por exemplo, o Pecado, o Juízo Final, a Salvação da Alma, a Ressurreição, as noções de Paraíso e de Inferno, são convicções religiosas que perpassam pelos alicerces das três maiores crenças da contemporaneidade: o Cristianismo, o Islamismo e o Judaísmo.
Desde já, agradeço pela atenção e espero a vossa participação!!!!
Saudações Históricas!