quarta-feira, 30 de março de 2011

OLIVER CROMWELL: "Lorde Protetor dos Britânicos"


No conturbado contexto revolucionário inglês do século XVII, destaca-se a Guerra Civil também conhecida como Revolução Puritana (1642-1649), na qual exército puritano liderado por Oliver Cromwell, que defendia a bandeira do parlamento em oposição ao exército real de Carlos I, saiu vitorioso.
No desenrolar da situação, Cromwell tornou-se o novo líder político da Inglaterra, chegando a proclamar uma república na qual nem de longe fora exercida por ele mesmo. Sendo assim, apresento-lhes nesta postagem um emblema inglês produzido em homenagem a Oliver Cromwell, no qual está repleto de simbolismos que nos fornecem dados preciosos acerca deste contexto histórico.
Para bem analisarmos a imagem e refletirmos acerca dos elementos simbólicos presentes, dividirei esta leitura e/ou interpretação em 7 partes.
1.       A espada empunhada por Cromwell que está ligada a uma mensagem em grego (“crer em um só Deus”) vinda dos céus, e que parece emanar de uma igreja (acima da coluna da direita) nos apontam para a mentalidade de que o que líder do principal exército parlamentar fazia, era em nome de Deus. Esta ideia se reforça com a presença da pomba, logo acima da sua cabeça, sinalizando que o mesmo fora guiado e/ou conduzido pelo Espírito Santo.

2.       Só nestes 2 elementos inicialmente destacados, percebermos a forte presença do pensamento religioso. A presença de uma bíblia na mão esquerda de Cromwell concretiza bem esta linha de pensamento, pois a mesma representa o puritanismo, religião na qual norteou ideologicamente, o exército comandado por este puritano.

3.       A Armadura, se associada ao teor religioso aqui já mencionado, transmite a intenção  de apresentá-lo como “Soldado de Deus”. Ao fundo, podemos perceber o exército liderado por Oliver Cromwell. É interessante reforçar que a ideologia puritana conduziu o seu exército a vitória, já que os seus soldados acreditavam que Cromwell era sim, um escolhido de Deus, e que consequentemente todos eles lutavam por uma causa divina.

4.       Percebe-se também, uma pessoa e uma serpente sendo pisada (esmagada e/ou destruída). Neste aspecto, residentem dois símbolos importantes: o primeiro, o sistema monárquico absolutista simbolizado na figura de uma pessoa, já a serpente, refere-se ao mal que este sistema político causava ao povo. Também associaria a serpente ao Anglicanismo, que era a religião oficial da Inglaterra antes do processo revolucionário. A doutrina anglicana era fortemente combatida pelos puritanos.

5.       As bandeiras da Inglaterra, da Escócia e da Irlanda presentes na coluna direita, aludem à criação de um parlamento único para os três países sob a tutela republicana de Oliver Cromwell considerado o protetor destes.

6.       O tamanho desproporcional atribuído a Cromwell na paisagem. A intenção ai é transmitir a importância atribuída a ele, conhecido como “Lorde Protetor dos Britânicos”, aquele que está acima de todos e muito poderoso, ou seja, segundo a mentalidade de grande parte dos revolucionários e da população, não havia ninguém mais importante que ele na Grã-Bretanha.

7.       Por fim, damos destaque às diversas atividades trabalhistas como a agricultura, a mineração, a pecuária, nesta última, por exemplo, predominava a criação de ovelhas já que a extração de lã para a produção de fios usados na fabricação de tecidos era uma das principais atividades econômicas da Inglaterra. É válido ressaltar ai, que a doutrina puritana exalta o fator trabalho como algo virtuoso e sagrado.

Sem sombra de dúvida, este emblema aqui proposto e uma ótima opção para o trabalho em sala de aula. Trata-se de uma fonte histórica “carregada” de ideologia, simbolismo, cultura, dentre outros aspectos inerentes à temática, e que com certeza facilitará e muito, o processo de ensino-aprendizagem já que o trabalho com imagens aguça a sensibilidade crítica do educando.
Sendo assim, ficamos por aqui. Se leu, não deixe de marcar uma das reações abaixo ou poste um comentário. Lembre-se: "A sua participação é importante."
Saudações Históricas!



domingo, 20 de março de 2011

CALENDÁRIO DOS SERVOS MEDIEVAIS

Indiscutivelmente a Idade Média é um dos períodos da história mais ricos e curiosos. Embora seja denominada de “Idade das Trevas” por historiadores modernos devido a forte teocentricidade vivida naquele período, as fontes históricas pertinentes ao medievo nos revela detalhes políticos, econômicos, trabalhistas, religiosos, sociais e culturais interessantíssimos.
As imagens ocupavam um espaço especial na Idade Média. Com uma função formadora,  estas revelavam aspectos ligados ao cristianismo, procurando aguçar a mentalidade do fiel acerca dos assuntos religiosos, como por exemplo, de como seria o céu ou como seria o inferno. Outro aspecto fortemente ligado ao uso das imagens medievais é a rotina das classes sociais da época. Sendo assim, ao ilustrar o trabalho no campo, ou o luxo de uma família nobre, ou de clérigos, transmitia-se a ideologia do “desígnio de Deus”, ou seja, as pessoas não deveriam contestar a sua condição social, mas sobretudo aceitá-la como vontade de Deus.
É justamente embarcando nessa viagem das imagens do medievo que trago nesta postagem um conjunto de iluminuras pertencentes ao Livro manuscrito de orações flamengo (habitantes da região de Flandres, norte da atual Bélgica), produzido por volta de 1515 e intitulado de “Hora da Virgem”.
Estas iluminuras revela-nos detalhes do cotidiano dos servos medievais e além de serem excelentes fontes para o trabalho em sala de aula, permite-nos perceber a importância das estações do ano no que se refere ao ritmo de trabalho dos servos medievais. Então vamos a elas:






Durante o mês de janeiro, o frio era intenso e o trabalho fora de casa diminuía. Em casa, enquanto os senhores se aqueciam junto da fogueira, as criadas serviam-lhe todo o tempo e faziam trabalhos domésticos. Era inverno.






  
Em abril, próximo da Páscoa, as camponesas aproveitavam a abundância do leite das vacas e produziam queijos e manteigas. Era primavera.







 Logo depois da Semana Santa, havia um tempo livre maior para o descanso e o lazer. Nessa época, celebrava-se o Dia de Maio, com danças e canções populares. Ainda era primavera.





 Nos meses mais quentes, o trabalho dos camponeses ficava mais duro. No começo de junho, era hora de os pastores lavarem os carneiros e tosquiarem a lã, supervisiodados por um capataz. Era verão.







O Corte do feno acontece no mês de julho, junto com a moenda dos grãos nos moinhos de vento. Era verão.





 As colheitas mais importantes, as de cereais como trigo e centeio, acontecem durante o mês de agosto, logo depois do término de apanhado o feno. Ainda no verão.





 Após a colheita, era preciso preparar a terra para novo plantio. Em setembro, os camponeses usavam o arado em seu trabalho intenso. Era outono.




Em outubro, a época é a de armazenar e fazer reservas de alimentos e moedas. É comum os camponeses irem às feiras nas cidades para comercializar o gado. Era outono.

No mês de novembro, os camponeses trabalham as hastes secas do linho: malham com batedores, para separar a parte lenhosa, com consistência de madeira, da que servirá para a produção fios.  Era outono.


  

Em dezembro, muitos dias são consagrados aos festejos de natal. A ceia era servida pelo senhor do castelo e era necessário abater porcos, o prato principal. Era inverno novamente.




Bom... se leu, não deixe de marcar uma das reações ou postar um comentário.

Saudações históricas,


Obs: As imagens e as interpretações das mesmas foram retiradas de:
MAGALHÃES, Gustavo Celso; HERMETO, Miriam. Coleção Pitágoras 7º ano do Ensino Fundamental. p.20-21.
Editora Educacional. Belo Horizonte/MG. 2011.


terça-feira, 8 de março de 2011

"ATRÁS DO TRIO ELÉTRICO SÓ..." vai quem tem dinheiro!

Foto (1): Trio Elétrico Armadinho, Dodô e Osmar. Carnaval de Salvador/1977.


Foto (2): Bloco Nana Banana. Carnaval de Salvador/2010.

O carnaval é sem dúvida alguma, a expressão cultural mais forte do povo brasileiro. E é diante desta convicção que proponho a análise de duas fotografias referentes ao Carnaval de Salvador/BA, porém tratando-se de temporalidades distintas.
Ambas são riquíssimas de elementos históricos e podem ser muito bem exploradas em sala de aula, convidando aos analisadores a uma reflexão acerca das transformações sociais, políticas, econômicas e culturais sofridas pelo Carnaval de Salvador/BA ao longo do tempo.
A fotografia (1) refere-se ao carnaval no final da década de 70, e historicamente falando vale ressaltar que, embora não floresça na cena nada que nos remeta ao regime militar, neste período o Brasil vivia-o de forma intensa. O carro de som a tocar é o lendário trio elétrico de Armandinho, Dodô e Osmar (este dois últimos são os criadores do trio elétrico) que como podemos observar, num anúncio na parte superior do trio, contava naquele dia com a participação especial de Moraes Moreira, artista considerado um ícone da história do carnaval de Salvador. A fotografia (2) refere-se à atualidade, mais necessariamente ao ano de 2010, o trio é batizado de Tiranossauro Rex (“O predador da tristeza”), o mais moderno do carnaval baiano, a banda acima é o Chiclete com Banana, avaliada por muitos foliões e críticos no geral como uma “lenda viva” do carnaval de Salvador.
Ao observar bem a foto da década de 70, podemos perceber que as pessoas brincam livremente pelas ruas, que há uma grande miscelânea popular seja no campo econômico, racial e cultural, resumindo, o trio toca para o “povão” de uma forma geral, ou seja, não era necessário à luz daquela época comprar uma fantasia para seguir o trio elétrico. Nota-se também uma diversidade de acessórios que compõem os estilos dos foliões como chapéus, faixas, lenços, óculos, guarda-sol, dentre outros elementos que indicam a tendência do visual (moda) para o carnaval daquele período. Já na foto atual (2) podemos facilmente identificar a separação e a padronização dos foliões através da corda e dos abadás que limitam e identificam o espaço reservado para o bloco carnavalesco. Ao contrário da primeira cena, não podemos afirmar que as pessoas que compõem o bloco fazem parte de uma miscelânea social, já que é sabido que para se fazer parte dessas instituições (blocos) é preciso desembolsar uma boa quantia em dinheiro. Aos demais foliões, o antigo “povão”, agora apelidado de “pipoca”, resta o aperto do pouco que sobra das ruas, ainda não ocupados por blocos, arquibancadas e camarotes. Outro aspecto relevante ai é a população que compõem o bloco, majoritariamente formada por brancos, o que acaba por contradizer com os traços étnicos raciais de Salvador que chega a ter cerca 80% de sua população composta pelo elemento negro. Isto é uma prova de que cada vez mais os blocos de carnavais da Bahia tornam-se acessíveis apenas para os turistas (nacionais ou internacionais) e para a camada elitista local. Na mentalidade atual do governo do Estado a questão do turismo no carnaval é um fator importante no que se refere à arrecadação, ou seja, a única maneira de garantir a receita proveniente do turismo é dando-lhes todo o conforto necessário para a folia, no caso os blocos e os camarotes, que a cada ano que passa, comprimem a população local transformando os espaços públicos em privados. O carnaval da foto (1) não tinha tantas pretensões econômicas e turísticas, o que valia mais era a questão cultural e o fator entretenimento.
Outra curiosidade a ser explorada na foto (1), é que se bem olharmos, não perceberemos a participação de mulheres, não que elas não participassem do carnaval em si, mas ir atrás do trio elétrico definitivamente não era coisa para elas, atribuo isso ao fator segurança. Já na foto (2) sem muito esforço percebemos a grande participação do elemento feminino no interior das cordas do bloco.
Nos dias atuais a transmissão ao vivo do carnaval de Salvador para o mundo inteiro pelos mais diversos meios de comunicações e a explosão demográfica ocasionada pelo turismo, acabam por resultar em uma superexposição do evento, o que consequentemente impacta fortemente na questão publicitária. Uma prova disso é que podemos perceber na foto (2) a marca do patrocinador do bloco gravado no trio, o que a primeira vista nos dá a sensação de que é pouco, mas na realidade o que se tem ai é uma forte exposição de uma marca que pagou milhões por uma exclusividade. Aliado a publicidade do bloco, várias placas publicitárias são colocadas nas ruas, como podemos ver uma ao fundo do trio desta mesma foto, o que torna o carnaval atual numa poderosíssima indústria comercial e publicitária de potencial monetário astronômico. Já na foto (1) percebe-se um único patrocinador (BANEB - Banco do Estado da Bahia) que com muito esforço podemos enxergar nas camisas dos músicos acima do trio elétrico, o que nos remete para uma fraca intencionalidade propagandística. Na realidade não podemos negar que isto seria o início, ainda que tímido, deste processo de comercialização do carnaval. O fato de se tratar de uma instituição estadual nos levar a crer que esta é mais uma ação empresarial de incentivo cultural do que publicitária.
Sendo assim, afirmar que o carnaval de Salvador evoluiu ou regrediu ao longo do tempo é uma conclusão muito peculiar de quem o analisa, de certo é que ele se potencializou economicamente falando, seja pelo fator turístico, comercial ou propagandístico, mas aliado a essa potencialização veio também a exclusão social, onde o dinheiro garante as melhores condições para brincar o que nos obriga a adaptar o refrão da música “Atrás do Trio elétrico só não vai quem já morreu” de Caetano Veloso para: “Atrás do trio elétrico só vai quem tem dinheiro”.
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