terça-feira, 21 de junho de 2011

NACIONALISMO 2 X 0 ENTREGUISMO: A questão petrolífera brasileira

Getúlio Vargas, 1953                                        Lula, 2005


Certa feita, fui questionado por um dos meus alunos da seguinte forma: “Professor, podemos afirmar que a História se repete?” Respondi a ele que não, pois o tempo não se repete. Uma vez passado os segundos, as horas e os dias, estes geram situações que embora possam deixar marcas, não voltam mais, ao contrário, se a História se repetisse, estaríamos estagnados no tempo e no espaço, o que de fato não ocorre. Sempre costumo dizer aos meus alunos que “a História deixa rastros de si mesma”, o que não quer dizer necessariamente que ela esteja se repetindo ao longo das sucessões temporais.
Para bem exemplificar o que exponho aqui, trago para esta postagem, imagens e fatos históricos que ocorreram em momentos distintos da História e que a primeira vista nos remeterá à sensação de que se trata de uma “repetição histórica”.
Vamos lá então! Se existe na história deste país, Estadistas nos quais encontraremos diversos pontos análogos, são eles: Getúlio Dorneles Vargas e Luiz Inácio Lula da Silva.
Não elencaremos aqui todos os pontos comuns existentes entre ambos, mas nos atentaremos ao momento histórico das fotografias propostas.
A primeira fotografia trata-se de um ícone da gestão Vargas, mais propriamente do seu segundo mandato que durou apenas dois anos (1952-1954), devido ao seu suicídio. Naquela época fervilhava nos confins de boa parte do Brasil, a discussão acerca de quem teria o direito de explorar o petróleo brasileiro. O embate ideológico acirrava-se cada vez mais entre os chamados “nacionalistas”, que defendiam o direito do Brasil em explorar e refinar exclusivamente o petróleo nacional e os “entreguistas” ou “internacionalistas”, que defendiam a abertura desta exploração ao capital estrangeiro. Sendo um presidente de caráter nacionalista, Getúlio Vargas conseguiu na época, mobilizar boa parte do quadro político e da sociedade, que acabaram por aderir a campanha “O Petróleo é nosso!”. Sendo assim, em 1953 com a justificativa de desenvolver industrialmente e alargar a rede de infraestrutura energética nacional, o governo brasileiro criou a Petrobras, empresa estatal que deteria o direito exclusivo de extração e refino do petróleo encontrado em território brasileiro. É importante acrescentar que o discurso da campanha “O petróleo é nosso”, também era sustentado pela possibilidade de geração de emprego, pelo aumento da arrecadação tributária que seria destinada a setores que estão intimamente ligados à qualidade de vida do povo, além de fortalecer a nossa economia, evitando assim, que boa, se não a maior parte dos lucros se destinassem ao investidor estrangeiro.
Na segunda fotografia encontra-se o presidente Lula que governou o país entre os anos de 2002 e 2010. Nela, o então presidente, curiosamente fazendo o mesmo gesto com as mãos (aproximadamente cinquenta anos depois), comemora o sucesso da perfuração e da confirmação da existência de uma das maiores bacias petrolíferas encontradas, o pré-sal. Dentre as diversas discussões ocorridas acerca do pré-sal brasileiro, é justamente na campanha presidencial em 2010, que o assunto acerca de quem deve explorar este petróleo vem a tona. A candidata a sucessão do presidente Lula, Dilma Rousseff, e o candidato de oposição José Serra, travaram durante todo o processo eleitoral uma discussão que se assemelhava, ainda que parcialmente, aos embates entre nacionalistas e entreguistas no início dos anos 50. Dilma Rousseff sustentava um discurso de cunho nacionalista, sempre relatando que o petróleo a ser extraído da camada pré-sal, era do povo brasileiro e que o mesmo era como um “bilhete premiado” para o Brasil, não sendo justo a entrega deste para a exploração dos grupos estrangeiros. A linha de pensamento da candidata seguia firme sob as mesmas alegações de geração de emprego e renda, de investimentos nas mais diversas áreas do campo social, econômico e cultural, que acabaria por proporcionar uma melhor qualidade de vida aos brasileiros em si. Acuado e carregando o estigma de um partido privatizador dos bens nacionais, restava ao José Serra se defender, procurando, ainda que titubeando, afirmar que não era a sua intenção privatizar a Petrobras, mas sim fortalecê-la.
Bom... essa temática daria uma ótima discussão em sala de aula, mas que pode se concretizar aqui neste espaço por meio dos comentários. Mas que fique claro que o que quis mostrar aqui, é que a História em si, não se repete, mas nos proporciona legados e/ou marcas que acabam por nos fornecer boas reflexões e discussões que culminarão no estabelecimento de relações entre temporalidades e fatos distintos, justamente por possuírem essencialmente natureza que se aproximam e por que não dizer, que se assemelham.

Forte abraço e saudações históricas!


sexta-feira, 10 de junho de 2011

OS VALORES BURGUESES DA RENASCENÇA: entre o medieval e o moderno

O Casal Arnolfini


Produzida em 1434, pelo pintor flamengo Jan Van Eyck, “O casamento de Giovanni Arnolfini e Giovanna Cenami” é uma das obras renascentistas de maior expressão e de conhecimento do público. Repleta de elementos simbólicos, a tela revela uma série de valores vivenciados pela sociedade européia, que à luz daquele período, passava por profundas transformações inerentes ao processo de transição da mentalidade medieval para a moderna. Dividido pelo pensamento teocêntrico e supersticioso, oriundo dos vários séculos de predominância do cristianismo católico medieval e a racionalidade humanística, o homem moderno vivenciava conflituosamente este processo de transição da História.
Na Idade Média, por exemplo, as imagens exerciam uma função formativa de caráter religioso, ou seja, o objetivo era ilustrar aos fiéis questões ligadas a cristandade, à salvação ou a condenação, ou ainda ao plano divino, e se levarmos em consideração que a maioria das pessoas do período eram analfabetas, perceberemos então a importância do recurso imagético e seus simbolismos naquele tempo. Já o movimento renascentista procurava consolidar uma nova visão de mundo, na qual o aspecto divino, embora não tenha sido totalmente suplantado, perdeu consideralvel espaço para o humano. Podemos bem ilustrar isto através das obras da época.
Sendo assim, a tela proposta para essa postagem nos fornece uma clara noção dos valores cultivados pela sociedade européia em seu exato momento de produção, o Renascimento. Dessa forma, vamos a leitura da imagem:
Os primeiros aspectos que podemos destacar e refletir refere-se à qualidade das roupas, a maneira rica de se vestir de Giovanni e Giovanna, além disso, se repararmos bem nos objetos que compõem a cena, no caso, o quarto do casal, perceberemos que os mesmos são de boa qualidade e consequentemente caros. Nestes dois pontos ressaltados residem uma questão chave para uma boa leitura: trata-se de uma família burguesa do século XV.
Procurando retratar um momento importante das suas vidas, o casal buscou registrar o matrimônio e o nascimento de uma família. A união matrimonial está representada no ato de dar as mãos e o nascimento familiar, encontra-se simbolicamente incutido no fato da moça está grávida. Um aspecto curioso ai, é o fato da grande possibilidade de Giovanna não ter engravidado, assim demonstram os estudos realizados acerca do casal. Outro ponto curioso fica por conta do vestido verde da moça, verde é a cor da fertilidade.
Tratando-se de um casamento, o princípio da fidelidade é um dos principais a serem respeitado pelo casal, e ele aparece na cena, simbolizado na figura de um cão, considerado o melhor amigo do homem e sempre fiel ao seu dono. Os lençóis que revestem a cama são de cor vermelha, a cor da paixão, ressaltando o amor compartilhado entre os cônjugues .
Podemos ainda apresentar mais elementos presentes na cena e que estão intimamente ligados a religiosidade como a presença de um terço, bem ao lado do espelho. Além disso, as figuras que decoram o espelho, em formato de círculo, são representações dos passos de Jesus Cristo, que acabam por nos remeter à devoção do casal. No candelabro só tem uma vela acesa, ela simboliza o olhar de Deus, que ilumina e abençoa o lar e nova família que nascera.
Por fim, outro detalhe da cena merece a nossa atenção é fato de Giovanna está mais próxima da cama, enquanto que Giovanni está mais próximo da porta. Esta simples disposição dos personagens, revela-nos um forte aspecto cultural da época, aonde os homens tinham uma vida mais voltada para o mundo externo, como o trabalho por exemplo, e as mulheres procuravam exercer bem o seu papel de cuidar do lar, dos filhos e do marido.
Destacados e devidamente interpretados cada um dos elementos da imagem proposta, podemos concluir que, embora a ideia de ruptura com o que era de natureza medieval esteve bastante presente entre os renascentistas, o homem moderno carregava consigo diversos valores que facilmente podem ser associados a Idade Média, como por exemplo, a valorização do matrimônio, um dos sete sacramentos da Igreja Católica, e da vida religiosa representada pelos elementos presentes na cena aqui já destacados.
A tela de Jan Van Eyck é uma fonte histórica extremamente rica e ao desvendar seus símbolos, nos fornecerá dados valiosíssimos ligados ao Renascimento, proporcionando-nos boas discussões a serem realizadas em sala de aula.  
Chegamos ao fim de mais uma postagem.
Saudações históricas!