segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Revolução Bolchevique: varrendo as velhas estruturas

Cartaz produzido pelo cartunista russo Viktor Nikolaevich Denisov, em 1920

Em outubro de 1917, a Rússia estava mergulhada em uma profunda crise que perpassava pelas estruturas política, econômica, social e cultural. A velha estrutura alicerçada no Czarismo tinha “caído por terra” desde a Revolução Menchevique em fevereiro daquele mesmo ano. De Nicolau II, último dos czares, para Alexander Kerenski, líder revolucionário Menchevique que assumiu o poder provisoriamente, ocorreram algumas significativas mudanças no âmbito político, dentre elas, a anistia aos exilados. O que parecia uma medida de modernização e abertura política se transformaria em um enorme problema para o governo de Kerenski, pois entre os exilados estava Vladimir Illitch Ulianov, mais conhecido como Lenin.
Líder do partido Bolchevique, profundo conhecedor da doutrina marxista, Lenin pregava uma revolução comunista radical. Segundo ele os problemas do povo russo só seriam resolvidos se o atual governo fosse derrubado, o comunismo implantado e se as forças militares russas fossem retiradas da Primeira Guerra Mundial. Sendo assim, o líder Bolchevique encontrou na sofrida população, sofrimento este oriundo em inúmeras questões, dentre elas a penúria da participação na Primeira Guerra Mundial e na insatisfação com as moderadas mudanças e reformas feitas pelo governo Menchevique, um terreno fértil para um discurso ainda mais radicalizado e/ou exaltado. Inflamados pelas Teses de Abril, que tinha como lema “Paz, Terra e Pão”, o povo russo encontrara a motivação necessária para um novo levante, uma nova revolução, esta sim, na visão dos bolcheviques, capaz de acabar com a opressão capitalista imposta ao povo russo, com o fim da exploração sobre o proletariado e os camponeses, o término das injustiças latifundiárias e de um modo geral do abismo social existente.
Ao assumir o poder da Rússia cabia a Lenin colocar em prática todo seu discurso e assim começou a ser feito, o socialismo começou a ser implantado por meio do confisco e estatização das terras dos grandes latifundiários, dos bancos, da marinha mercante, da indústria, etc. É justamente nesta fase de implementação do socialismo na Rússia que a imagem acima, selecionada para esta postagem, tem relação. Produzida em 1920, pelo cartunista russo Viktor Nikolaevich Denisov (1893-1946), a imagem demonstra bem seu posicionamento favorável ao líder e à política Bolchevique. Sendo assim, vamos à leitura da respectiva cena produzida.
Primeiro aspecto a ser observado é o fato de que Lenin está sobre o globo terrestre (mundo) com uma grande vassoura (ideologia comunista) que varre toda a velha estrutura política, econômica, social e cultural que alicerçava o sistema Czarista e o próprio capitalismo russo. O fato de está acima do globo e representado em tamanho maior que os demais da cena, pode conotar a ideia de superioridade, de liderança ou até mesmo de disseminador de ideias. Não podemos deixar de citar as personagens varridas na cena, que de cima para baixo, representam os Czares, o patriarca da Igreja Ortodoxa Russa e um burguês, mais precisamente um banqueiro, o que torna-se evidente através da análise das vestimentas de cada um deles. Outro detalhe na cena a ser percebido é o fato de todos os varridos serem “gordos”, o que nos reporta a ideia de “vida boa”, de abundância, de riqueza e/ou de fartura que estes viviam, lógico, tudo isso às custas da exploração do povo russo.

Na parte de baixo do cartaz, lê-se em russo “Camarada Lenin limpa o mundo do lixo capitalista”, mensagem de conteúdo ideológico fortíssimo que mostra o socialismo como força benigna de salvação da humanidade e o capitalismo como a força maligna, fonte de todo mal político, social e econômico. Dali em diante, muitas coisas aconteceriam no doloroso processo de consolidação do socialismo na Rússia que em 1922, ainda sobre o comando de Lenin se tornaria a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e mudaria a partir daquele instante o curso da História.